Dias atrás a imprensa divulgou que Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, não perde um episódio da série Game of Thrones – e quando não pode assistir, grava os capítulos.
Apesar dessa introdução, não é minha intenção discutir aqui os hábitos televisivos da presidente, nem suas preferências na telinha. O motivo desta citação é outro.
Sempre achei que o “workaholic” é uma vítima de condicionamentos e crenças existenciais equivocadas, quando não um fugitivo da intimidade afetiva – mas isto é uma longa história cuja natureza não cabe no escopo deste artigo.
Quero apenas lembrar a todos que o ser humano se constitui de corpo, mente e espírito. Para se ter uma vida produtiva, saudável e feliz, é, portanto, preciso cuidar dessas três partes e mantê-las atuantes de forma motivada, atualizada e completa. A omissão de qualquer delas ou a fixação em uma delas causará consideráveis estragos na qualidade de vida do indivíduo e criará nele grandes limitações que o impedirão de desfrutar plenamente tudo o que a vida lhe proporciona. Em outras palavras, a necessidade do tão falado equilíbrio entre vida pessoal, profissional e espiritual não é balela nem conversa fiada de psicólogo.
Fico espantado com a quantidade de profissionais que encontro em eventos corporativos e que, em conversas informais, afirmam que não sabem contar piadas, não sabem a letra de nenhuma música, não vão a cinema e teatro, não lêem livros e revistas e não assistem a séries de TV.
E por quê? Porque, segundo alegam, não têm tempo para isso! Todo o tempo deles é dedicado ao trabalho. A empresa agradece, mas certamente a família e os amigos, não. Muito menos seu próprio tripé de corpo, mente e espírito que vive sob o sobressalto do estresse se aproximando a cada dia, prestes a transformar-se em “burnout”. Muitos desses profissionais estão perdendo os melhores anos da vida dos seus filhos e os melhores momentos da sua relação afetiva. E deixando de lado parentes e amigos queridos. Sem falar de Deus – felizmente, de todos o mais tolerante e paciente.
Pois saiba, caro amigo “workaholic”, que enquanto você está fazendo serão ou esticando seu expediente de trabalho muito além do necessário, a presidente da República do Brasil, aquela que tem muito mais metas, funcionários, clientes e responsabilidades que você, está curtindo tranquilamente, à noite, uma interessante série de aventuras na TV. Provavelmente cercada de familiares e amigos – e é quase certo que sem faltar a pipoca. Tempo não se acha, se cria – desde que haja flexibilidade, interesse e motivação para isso. E sem a necessidade de complicados e confusos gráficos de controles e planejamento – basta o bom senso.
Portanto, prezado “workaholic”, tudo o que posso recomendar é: ou procure ajuda profissional de um psicoterapeuta ou de um “coach”, ou siga em frente. Para isso existe o livre arbítrio. Floriano Serra é psicólogo, palestrante e docente de seminários comportamentais. É diretor da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano no trabalho. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.