Cultura, Compliance e Corinthians: Lições Extraídas de uma Tragédia
No amanhecer do dia 20/08/2023, ocorreu um trágico acidente na Rodovia Fernão Dias, resultando na lamentável perda de sete vidas. Este evento, embora tristemente comum em nossos noticiários devido à notória periculosidade dessa via, ressalta um aspecto essencial que permeia nossa sociedade e nação: a cultura e os princípios de compliance. A análise aprofundada destes incidentes traz à tona lições cruciais para nosso entendimento e evolução como cidadãos e sociedade.
Destacando a gravidade do evento, observa-se que vários fatores de não conformidade contribuíram para o desfecho trágico:
- Frota e Documentação: O veículo fretado pela Torcida Organizada Gaviões da Fiel, subsede do Vale do Paraíba, não apenas era antiquado, mas também carecia da documentação necessária para a viagem, configurando uma clara violação legal.
- Tacógrafo e Normas de Operação: Além disso, o tacógrafo, dispositivo essencial para monitorar o cumprimento das regulamentações de tempo de direção, não estava operando conforme os requisitos regulatórios.
- Manutenção Deficiente: A negligência na manutenção dos pneus e freios acentua a dimensão da falta de conformidade, comprometendo a segurança dos passageiros.
Examinando minuciosamente esses elementos, emerge uma complexa conjunção de fatores que desencadeou a lamentável perda de vidas e expôs outras a riscos graves. É nesse contexto que nos confrontamos com uma característica cultural intrínseca, refletida tanto em debates cotidianos quanto na mídia: a busca pelo “culpado”.
Importa reconhecer que a tragédia não pode ser atribuída a um único fator isolado, mas sim a uma rede intrincada de elementos. No entanto, a busca incessante por responsabilidades individuais obscurece a verdadeira essência do problema. Em vez de direcionar nossas energias para o apontamento de culpas, é vital extrair lições significativas dessa experiência dolorosa e adotar uma abordagem mais preventiva e profissional em nosso papel como cidadãos e membros da sociedade.
Nesse sentido, o mundo corporativo tem evoluído consideravelmente nos últimos anos ao adotar um conjunto de práticas conhecidas como “compliance”, que englobam a conformidade com diversos aspectos operacionais. Isso abrange, entre outros:
- Legislação Vigente: Aderência rigorosa a todas as dimensões da legislação em vigor, englobando aspectos fiscal, regulatório, trabalhista, civil e criminal.
- Melhores Práticas: Implementação de padrões de excelência na condução dos negócios.
- Prevenção e Correção: Ações preventivas e corretivas para evitar interrupções operacionais e proteger a reputação da empresa.
O trágico acidente também aponta para oportunidades de melhorias claras:
- Seleção Consciente: A equipe organizadora da caravana deveria ter exigido a verificação documental da empresa de transporte, garantindo a legalidade e segurança da operação.
- Responsabilidade Compartilhada: O proprietário da empresa, também motorista, deveria ter considerado alugar um veículo de outra empresa, garantindo um transporte seguro e uma viagem tranquila, com final feliz.
- Monitoramento Tecnológico: Autoridades poderiam ter utilizado tecnologia de radares para identificar irregularidades documentais e evitar a circulação de veículos inadequados.
A cultura de “compliance” deve ser internalizada como um pilar fundamental de nossa sociedade. Essa abordagem fortalecerá a maturidade e capacidade de direcionar nosso destino, reivindicando os direitos como contribuintes responsáveis. Vidas são inestimáveis e devem ser protegidas de maneira responsável. A tragédia que envolveu 43 apoiadores de uma das maiores torcidas de futebol do planeta, poderia ter sido evitada se ações simples e previsíveis tivessem sido adotadas e implementadas.
A tragédia nos recorda a importância de uma abordagem preventiva, profissional e alinhada aos princípios de conformidade. Mais do que encontrar culpados, devemos buscar soluções que fortaleçam nossa sociedade, promovendo segurança, responsabilidade e progresso contínuo. É, verdadeiramente, uma lição a ser aprendida.
Marcelo Bispo Teixeira
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