Responsabilidade
Assumir a responsabilidade por nossos atos, com coragem e disposição, nos coloca a favor da vida e ela nos apóia.
Zíbia Gasparetto
Se você pretende estar bem, deve assumir seus próprios problemas, mas nunca, os dos outros!
Andava tão cansada que resolvi procurar um médico que pudesse me receitar uma boa vitamina – algo que me fizesse sentir melhor, com energia, cheia de gás.
Converso com algumas pessoas e uma delas sugere que devo procurar um geriatra, mas eu não tinha mais do que 35 anos e, geriatra é coisa para velho, não é?
Minha amiga falou que até artistas de 20 anos visitam geriatras e que “geriatras” não existem para tratar de velho, mas sim, da velhice, ou seja, é bom procurá-los antes da velhice chegar, para que já comecem a prevenir os possíveis problemas advindos da mesma.
Pensando assim! Vamos lá.
Marquei consulta com um dos mais importantes geriatras de São Paulo, o mesmo que, supostamente, vinha atendendo uma série de artistas, empresários e executivos.
Não encontrei nenhum deles quando lá estive e também não perguntei ao tal médico se ele era, de fato, médico de tantos famosos, mas pelo preço, devia ser. Não sei avaliar se o que ele fez comigo, os medicamentos que receitou, os exames que solicitou, produziram bons resultados, mas nunca vou esquecer a primeira dica que me deu e que, de fato, me fez entender que o que paguei, valeu!
Na primeira consulta o tal médico ficava mais de uma hora com o cliente – era a anamnese. Uma bateria de perguntas sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis de minha vida – como nasci, onde, quando, pai, mãe, avós, parentes, irmãos, amigos, lazer, hobbies, estudos, passeios, alegrias, tristezas, doenças, formação e, finalmente, trabalho.
– Você é psicóloga, atende pacientes?
– Não, trabalho em empresa. Sou profissional da área de Recursos Humanos.
– Ah! Então você já deve ter colocado um vidro dividindo a sua mesa, certo?
Essa foi a dica sobre a qual comentei. A dica que nunca mais esqueci.
“Então você já deve ter colocado um vidro dividindo a sua mesa”
– Não, lógico que não! Aliás, quando cheguei na atual empresa, ninguém podia entrar no departamento de RH que tinha uma porta-balcão onde as pessoas eram barradas e atendidas somente ali – da porta para fora – e, ao contrário, a primeira coisa que fiz foi tirar a tal porta permitindo que todo e qualquer funcionário entrasse para conversar conosco. Profissionais de RH existem para atender as pessoas e não para ficarem isolados, sentados em suas mesas, trancados em suas salas, completei.
– Entendo e é por isso mesmo que estou perguntando se já colocou um vidro dividindo a sua mesa e, óbvio, antes que eu voltasse a falar, continuou:
– O que eu quero dizer é que, em atividades como as nossas, de atendimento e assistência à pessoas, temos que colocar um vidro transparente e invisível, mas refratário diante de nós. Dessa maneira, você devolve os “macaquinhos” para os verdadeiros proprietários.
Esta é a primeira parte do tratamento, disse ele. Imagino que receba muitas pessoas com muitos problemas e se permitir que deixem seus problemas para você, não vai aguentar mesmo.
Entenda que os problemas dos outros devem continuar nas mãos deles. Você disse que existe para atender as pessoas e não para ficar dentro de um escritório. Tudo bem. Não conheço bem esse seu trabalho, mas imagino que deva ser assim mesmo. De qualquer maneira, os seus problemas são seus, não entregue para ninguém porque não é justo – eu não quero os seus problemas, aliás, como poderei ajudá-la se ficar com eles para mim? Você concorda que se ficar com todos os problemas das pessoas que te procuram você não vai conseguir ajudar ninguém? Você só consegue ajudar se estiver bem e, para ficar bem, tem que deixar cada um com os seus “macaquinhos”.
“Então, você já deve ter colocado um vidro dividindo a sua mesa.”
Foi uma das mais importantes dicas que ouvi naqueles tempos e que continua viva em mim tem sido útil, muito útil para mim e para várias pessoas para as quais fiz a mesma pergunta que o tal Doutor me fez, anos atrás.
Por: Áurea Grigoletti (Psicóloga, Escritora, sócia da e1.conceito – Fortalecimento Empresarial).