As pessoas não mudam com cobranças, mudam com exemplos.
Durante vinte e cinco anos morei no mesmo imóvel. Nasci e vivi ali durante todo esse tempo e tinha a sensação de que jamais conseguiria viver em outro lugar. Se minha sensação era essa, imagine qual era a de minha mãe, que viveu ali durante sessenta e quatro anos.
Costumava, quando criança, me imaginar adulta, comprando o imóvel, que era da minha avó, justamente para garantir a tal segurança de conhecer tudo naquele lugar: tudo de bom e de ruim, metro quadrado por metro quadrado, árvore por árvore, janela por janela, porta por porta, parede por parede, telha por telha… isso mesmo, telha por telha.
A casa já era bem velha quando nasci e, portanto, cheia de problemas – quantas e quantas vezes meu pai me fez subir no telhado para trocar as telhas que se quebravam com o tempo. Quantas e quantas vezes ajudei minha mãe a escovar e encerar o soalho, quantas e quantas vezes, ajudei minha família a lavar o grande quintal de cimento rústico que acumulava limbo.
Conhecia cada centímetro do lugar e, por mais problemas que, por acaso, tivesse, sabia onde encontrá-los. Nem sempre sabia como resolvê-los, mas sabia sim, onde estavam e isto me dava uma certa tranquilidade…
O tempo passou, minha avó partiu e a casa virou herança de cinco filhos e muitos netos que, lógico, queriam a sua parte o mais rápido possível.
Eu, nos meus 25 anos de idade, ainda não tinha juntado dinheiro suficiente para adquiri-la e tive, junto com minha mãe e pai, que mudar para nossa casinha, pequenina, há poucos quarteirões dali.
Saímos de uma casa grande, velha, cheia de problemas, onde havíamos acumulado coisas durante mais de uma centena de anos, e nos vimos entrando numa pequena casa de dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um bom quintal.
Suficiente para o básico de cada um de nós.
Foi uma limpeza monstruosa. Deixamos para lá tudo o que era possível deixar e o que achávamos não ser, também. Móveis, utensílios domésticos, ferramentas, tranqueiras e mais tranqueiras que um dia achamos não podermos passar sem. Tudo foi ficando para trás já que não tínhamos onde guardar no novo imóvel.
Mudamos. E que mudança foi aquela!!!
A nova casa não tinha mais do que o estritamente, necessário. Ficou “clean”. Por ser pequena, evitávamos acumular bobagens. Durante os anos em que vivi ali, meu pai também partiu e doamos tudo o que era dele para quem necessitava mais do que nós.
No ano seguinte, casei-me e minha mãe me fez levar tudo o que era meu embora.
Depois de 64 anos acumulando tranqueiras, imaginávamos o seu sofrimento ao sair da casa antiga e se ver numa casa pequenina sem poder levar um quarto do que acumulou. Qual nada, minha mãe era um exemplo de desprendimento e de aprendizagem rápida.
Enquanto viveu, nunca mais acumulou nada de inútil; ao contrário, todo o ano recebia ligações de entidades e doava todas as roupas que não estava usando naquele momento. Roupas que poderiam ser bem-vindas no ano seguinte, mas que poderiam ser melhor utilizadas, e já, por quem necessitava. Não que tivesse demais, só não queria juntar coisas, disse um dia para mim.
Quando partiu, deixou uma casa limpa, quase sem nada para distribuir – poucas lembranças concretas e muitas em nossos corações.
Mudanças tão importantes e tão evitadas por todos nós.
Quantas não são as mudanças necessárias nas empresas que, por conta de querermos manter a segurança do conhecimento – do saber onde está o problema, onde estão os problemáticos, preferimos não promover?
Pois bem, mudanças em empresas são essenciais para a sua evolução, para o seu crescimento, para o seu fortalecimento e, também, para nos livrarmos das tranqueiras que acumulamos ao longo dos anos.
Empresas clean são mais claras, transparentes, práticas e objetivas, ágeis em suas decisões, portanto, de respostas e entregas muito mais rápidas.
Mudanças são geradoras de conhecimento e nos libertam do que já está velho e em desuso. Oportunidades únicas de crescimento e aprendizado, mudanças devem sempre fazer parte de nossas vidas, seja em nossa casa, seja em nossas empresas.
Aprendi demais com minha mãe que, aos 64 anos de idade, mudou e comemorou – curtiu, aprendeu, realizou e ensinou.
Evoluir implica em mudar, portanto, mexa-se, faça as mudanças necessárias para a sua evolução.
Por Áurea Grigoletti