Quando assumiu o pontificado, o Papa Francisco falou coisas muito importantes. Principalmente, deu esperança aos pobres ao considerá-los sua prioridade – confirmada, inclusive, pela escolha do nome.
Mas seu alvo não foi apenas os pobres. Algumas de suas declarações poderiam – e deveriam – ser absorvidas e internalizadas pelas lideranças corporativas. Não são palavras exatamente novas, até porque vêm sendo repetidas à exaustão em palestras, artigos, entrevistas e livros por uma penca de consultores nos quais me incluo.
Disse o novo Papa: “O verdadeiro poder é o serviço˜. Quem conhece os conceitos da Liderança Servidora, quem já leu “O Monge e o Executivo”, vai sentir familiaridade com essa declaração. Que pode parecer óbvia, mas que ainda não é seguida por muitos líderes de empresas, que preferem o abominável exercício do poder arrogante, egoísta, preconceituoso e perverso. Daí o amontoado de processos trabalhistas em curso, em número cada vez maior.
E o que é mais incrível é que essa lamentável postura não é encontrada apenas em chefes novatos na carreira: muitos veteranos estão há décadas colecionando equipes revoltadas e sofredoras devido a esse “estilo”. Como disse James Hunter no livro citado e que é fenômeno editorial, a liderança é uma questão de caráter e não de estilo. Com a ajuda do Treinamento, é relativamente fácil um profissional mudar de estilo mas não de caráter.
“Não tenham medo da bondade e da ternura”, disse Francisco, o Papa. O que pensarão disto aqueles líderes que sentem vergonha de mostrar bondade e ternura perante seus funcionários por causa do absurdo e injustificável medo de perder a autoridade?
E o que dizer da humildade, outro foco maior das futuras ações do novo Papa? Para dar o exemplo, ele trocou o tradicional e suntuoso trono por uma cadeira e já disse que não vai residir no enorme apartamento que é reservado aos pontífices no Palácio Apostólico, preferindo permanecer nos alojamentos simples da Casa Santa Marta.
E agora? Como é que fica a infantil disputa das lideranças corporativas pelo tamanho da sala, da mesa de trabalho e até da poltrona?
Sei, sei: papa não é executivo e o Vaticano não é empresa, retrucarão alguns. Tá bom, respondo a esses. Concordo, mas se esses gestos e essas palavras do novo Papa não lhe sensibilizam, não me venha falar de mudanças no trabalho, democracia, qualidade de vida, motivação e continue liderando pelo poder. Afinal, esse é o seu jeitão, né?
Sobre o autor:
Floriano Serra é psicólogo, palestrante e escritor. Ex-diretor da Apsen Farmacêutica, uma das melhores empresas para trabalhar durante 5 anos consecutivos (de 2004 a 2008) durante sua gestão. Autor do livro “A Terceira Inteligência” (Butterfly Editora).
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